O meu desprezo por doutorandos

Ou de como eu hoje acordei um bocado de mau humor.

Uma vez que quase todos os temas de investigação estão esgotados, eu acho que a maioria dos doutorandos são tão só e apenas uns "papa-bolsas de estudo".

Há dias, alguém me disse "ah e tal, temos aqui um português a fazer um doutoramento sobre um país africano e o futebol", ao que eu pensei "ah e tal, preferia nem ter sabido disso, que viver na ignorância deixa-me mais feliz". Futebol????

Ontem, a minha colega de casa, cuja tese é sobre instrumentos musicais na África Oriental (?????), disse-me: "No proximo ano vou fazer trabalho de campo e ter um apartamento só para mim". O sangue subiu-se-me logo à cabeça. Enquanto ela vai estar num país quente, com o seu próprio espaço, a fazer safaris no Serengueti e a tocar tambores com os Masai, eu vou estar enfiada num apartamento com mais três ou quatro manfios, a vender a alma numa qualquer firma de advogados dessa Londres fria e cinzenta para pagar as dívidas que tive que contrair para poder fazer um mestrado num tema que realmente interessa ao mundo.

E como se a dor de cotovelo por eles terem bolsas de estudo e eu não, não fosse já suficiente para eu não gostar de doutorandos, hoje levei com mais uma em cima. Fui eu toda contente para a minha sala de computadores preferida na faculdade e... não consegui fazer log in. Humm... então fui informada que aquela sala agora é só para os senhores aspirantes a doutores de filosofia, que eles reclamaram e não se querem misturar com os restantes estudantes de pós-graduação.

"Ah e tal, mas eles agora também já não podem ir às nossas". Ah bom... assim fico mais descansada... os doutorandos já não podem usar a sala da cave, sem janelas nem saídas de ar, onde há menos de 50cm entre as filas de mesas e as impressoras estão sempre encravadas. Coitadinhos, agora vão ter que ficar enfiados numa sala enorme e espaçosa do primeiro andar, com muito mais computadores e impressoras que de facto funcionam e cujo um dos lados são só janelas a dar para o jardim.

Vão mas é trabalhar! Vão fazer qualquer coisa de útil para a sociedade!