quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Nobreza Decandente

Por vezes sinto-me como uma velha condessa desesperadamente agarrada ao título, mas que guarda os croquetes e os rissóis na carteira quando convidada para uma recepção.
Vivo na zona nobre. Privo com diplomatas. Almoço com Primeiros-Ministros. Lancho com antigas Primeiras Damas. Janto com Prémios Nobel. Mas no fim do dia vai-se a ver e não passo de uma estagiária que mal ganha 800 euros.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

À CP

Tenho uma sugestão para os senhores da CP - aqueles que ganham ordenados altos e bónus por gerirem uma empresa que só dá prejuízo. A bem dizer, eu tenho várias sugestões, tipo a compra de bilhetes online funcionar de facto ou haver desconto de cartão jovem no multibanco e tal.
Mas há uma coisa que eu gostava mesmo mesmo que passasse a existir nos comboios: uma espécie de carruagens temáticas. A coisa talvez seja pouco praticável no Alfa Pendular, nas no IC seria perfeito.
Da mesma forma que no período pré-socrático, havia carruagens de fumadores de não fumadores, podiam existir carruagens para diferentes públicos.
A carruagem para pessoas que querem dormir, onde seria proibido barulho, inclusivamente o uso de telemóveis com som.
A carruagem para pessoas acompanhadas por crianças até aos 10 anos, onde elas podiam correr, gritar, espernear e afins, sem incomodar os demais. Os bancos até podiam ser coloridos e tudo patrocinado pela Disney ou o Panda TV.
A carruagem para jovens que viajam em grupo, falam alto e usam calão em 90% da linguagem.
A carruagem dos velhinhos que carregam a bagagem toda em sacos de plástico que amarfanham ruidosamente durante a viagem completa. Não largam os saquinhos de plásticos, não vá um gatuno roubar-lhes os naperons que bordaram para a prima que vive em Lisboa e nunca pode ir à terra. Que isso agora é uma malandragem que não se pode. Também são estes velhinhos que trazem sempre a bucha que comem alegremente com a boca aberta, porque os ouvidos também comem e não há nada que dê mais gosto à comidinha que o barulho que se faz a mastigar. É curioso como TODOS os velhinhos levam SEMPRE o lanchinho (embrulhado no saco de plástico, lá está). É como se tivessem medo que numa viagem de duas horas lhe dê uma fome tal que os corroa por dentro até desaparecerem, qual combustão espontânea.
Assim, quando uma pessoal normal fosse comprar um bilhete, pedia para a carruagem das dormidas. Ao que o senhor vendedor dizia "xiiiiii, ao tempo que isso esgotou. Agora já só tenho para a carruagem dos velhinhos ou das crianças. Qual quer?"
Primeira classe, senhor, primeira classe.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Em modo quasi rigor mortis

Este blog voltou a estar em estado quase terminal.
Já não é por falta de ideias. É porque a entidade patronal da autora decidiu enchê-la de trabalho esta semana. Trabalho suburbano, inútil, mal-feito, monótono, estupidamente caro (mas afinal para algum lado têm que ir os milhões gastos em eventos e publicidade), para Ministro e seus gnomos verem. Mas trabalho. Muito.
Assim, a autora deste dignissímo blog está mais para morrer no sofá com a baba a escorrer-lhe do canto da boca e a manchar as bonitas e caras almofadas da Zara Home do que para grandes devaneios ensaístico-literários.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Marcelo Rebelo de Sousa e as lições do aborto

Marcelo Rebelo de Sousa, tão defensor da aprovação do Orçamento de Estado, devia fazer um videozinho ao estilo da campanha para o referendo do aborto:
"O OE é uma merda? É.
Mas devemos aprová-lo na mesma? Sim.
O OE vai aumentar o desemprego? Vai.
Mas devemos aprová-lo na mesma? Sim.
O OE vai estagnar a economia? Vai.
Mas devemos aprová-lo na mesma? Sim.
O OE vai aumentar os impostos, levar a mais fuga fiscal e logo a menos receita? Pois.
Mas devemos aprová-lo na mesma? Sim.
O OE está a ser elaborado por um governo que já perdeu toda a credibilidade para tomar decisões políticas sobre o presente e o futuro do país? Está.
Mas devemos aprová-lo na mesma? Sim."
(Para ser lido imaginando a figura do senhor professor com o dedinho a girar ora para um lado, ora para o outro).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Freaks and Geeks

Eu acho maravilhoso que pessoas que se auto-denominam "um bocadinho geek" precisem que eu lhes explique como fazer zoom e puxar um mapa no google ou como podem aceder ao Outlook.
Se calhar sou eu, que assumidamente não percebo muito de informática, também estou equívocada quanto ao conceito de geek. Se calhar não é uma pessoa que adora gadgets e percebe imenso de computadores e programação e playstations e afins. Se calhar é só uma pessoa que se veste à anos 80 e usa óculos enormes sem graduação.

Um país ao contrário

Pausa de cinco minutos na falta de vontade de escrever sobre a situação do país. Porque o país está mesmo ao contrário.

Toda a gente culpa os últimos 15 anos de governação socialista pelo estado do país e das finanças públicas. Dizem que o Primeiro-Ministro não tem carácter, mentiu ao país e, por causa disso, tomou tardiamente as medidas que se exigiam. Que é arrogante e autoritário. Que o aumento de impostos vai estrangular o possível crescimento económico. Que tem que se cortar mais na despesa pública. Que não há dinheiro para grandes obras públicas. Que este governo já está com os dias contados.
Mas, apesar de tudo isto, é o líder do PSD que pressionam para viabilizar um OE formulado por um governo incompetente. Dentro e fora do partido. Até os administradores dos principais bancos portugueses se vão encontrar com Passos Coelho para o convencer a aprovar. Mas está tudo doido em Portugal?
Porque é que não há pressão sobre o governo para fazer um OE aceitável? Porque é os senhores banqueiros não pedem audiências ao PM para o convencer a ceder e fazer um orçamento melhor? Se calhar porque a subida de impostos não os vai afectar a eles... Porque é que gente do PSD, cujo líder ainda tem credibilidade e não tem culpas no cartório, o pressiona, quando deviam ser os militantes do PS a exigir do seu Secretário-Geral alguma coerência e competência?
Uma nuvem de insanidade abateu-se no país. É a única explicação.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O cinzento dos dias

Parece que a inspiração tão depressa veio como se foi. Entre:
- Um trabalho de que não gosto, mas pelo qual e dado o panorama laboral, eu só posso estar agradecida;
- As aulas de Urdu (sim, eu sou uma pessoa persistente... ou alguém que não saber quando deve desistir)
- Um curso online sobre Asilo e Refugiados, que supostamente só me roubaria 45 minutos por dia, mas que me tem feito perder horas só a tentar compreender como o site funciona.
- O curso de escrita criativa (tem dado um resultadão, hein)
- As viagens Lisboa - Coimbra - Lisboa
O tempo fica escasso. Mais o tempo de pensar em que escrever do que a escrita em si mesma.
Falarei de quê? Das edições limitadas dos vernizes Chanel que toda a gente parece usar menos eu? Da chantagem política que antigos dirigentes do PSD, um dos quais deu alegremente de frosques e agora vem dar bitaites, estão a fazer ao Passos Coelho? Da Moda Lisboa, a que posso perfeitamente fingir que fui, pondo aqui umas fotos do Filipe Faísca? Da falta de carácter e vergonha na cara do Primeiro-Ministro? Do concerto dos U2?
São dias difíceis estes. Dias de tédio, de falta de esperança, de conversas iguais e igualmente más. Dizem que a necessidade aguça o génio. O meu, coitadinho, ainda não saiu da lâmpada mágica. Está lá, abrigado da chuva e do frio que já começa a apertar quando saio de casa de manhã. Não está com ar de quem quer sair de lá tão depressa. Por muito que eu esfregue.