quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os don'ts do engate - guia para quarentões

Quarentões que me lêem (não devem ser muitos, nem o meu pai sequer, mas pode ser que haja um passa palavra), quando quiserem entrar nas artes do engate a miúdas mais novas, por favor tenham alguns cuidados. Por isso, na primeira conversa, aquela que abre as hostilidades, evitem:

1. Dizer ao vosso alvo que ela tem o nome da vossa filha. Não sei, mas se calhar pode revelar algumas tendências incestuosas mal reprimidas.
2.Dizer que a vossa filha tem 20 anos, praticamente a idade do alvo. Que irá acontecer num eventual futuro, o alvo e a vossa filha vão tornar-se "melhores amigas para sempre"?
3. Dizer que já são avôs. Isso fará o quê do vosso alvo? Candidata a avó?
4. Engatar no local de trabalho. É que dá nas vistas e depois acabam por ser a chacota durante a hora de almoço.
5. Dizer que todos os dias perdem duas horas no trânsito, uma para cá, outra para lá. É que só revela a estupidez de quem não anda de transportes públicos ou não muda para o centro da cidade. Mas, pelo menos, explica o porquê do engate no local de trabalho: é que o tempo que perdem no trânsito não lhes permite ter tempo para engatar noutros lados mais inócuos.

É que se não respeitam estes don'ts, arriscam-se a ouvir assim metido à pressão um "pois, eu saía consigo, mas nesse dia vou assinar a escritura da casa que comprei com o meu namorado, aquele que se mudou este fim-de-semana lá para casa. E no dia seguinte vou falar com o padre para reservar a igreja. Estou mesmo com uma agenda complicada. Senão eu ia, pois claro que ia..."

P.S. Os próximos don'ts serão para empregados de mesa que acham que podem abordar alguém no meio da rua, dar dois beijinhos e convidar (e insistir!) para tomar café uma pessoa que lhes diz boa tarde, obrigada, até à próxima apenas por uma questão de educação.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A vingança da entidade patronal

Meses a gabar-me "ah e tal que eu demoro 10 minutos a pé até ao trabalho", "ah e tal que eu tenho o luxo de poder vir almoçar a casa", "ah e tal é só descer a rua".
E amanhã só me resta chorar "ah e tal eu até gostava de dar a desculpa de não ter transporte para não ir trabalhar, mas NÃO POSSO!"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mas na realidade ninguém se despacha

A vida na Função Pública resume-se a despachos, comunicações, despachos, ponto (relógio de ponto, tolerância de ponto), despachos, despachos e mais despachos.
Triste vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um dia inteiro numa conferência

para ouvir o José Manuel Pureza, ilustre deputado e líder parlamentar do Bloco de Esquerda afirmar:
"Eu não gosto de ideias que estão na moda. Desconfio sempre de ideias que são defendidas por muita gente."
É por isso que, apesar do poder pertencer ao povo, é sempre melhor que seja o Comité Central a mandar, já que ideias defendidas pelas maiorias (vulgo democracia) são sempre de desconfiar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Da minha janela vejo o país (II)

Da minha janela vejo uma das colinas de Lisboa. Da minha janela tenho um retrato do país.
Vejo um bairo histórico com o charme da decadência. Um quadro de Vieira da Silva com setenta anos de atraso. Os telhados apodrecidos. As velhas antenas de televisão.
Vejo prédios velhos, sujos, com traseiras em vias de derrocada. Varandas com a tralha ferrugenta que já não se quer em casa, mas que que não se deita fora porque os tempos não estão para desperdícios. As toalhas roçadas estendidas.
Não posso deixar de imaginar o interior destas casas velhas. A escuridão e a humidade das paredes porque as janelas não são viradas para o sol ou porque as cortinas estão sempre corridas para esconder as vergonhas das vidas.
Famílias muito grandes para espaços tão pequenos.
Idosos muito sozinhos para espaços tão grandes.
Demasiadas pessoas para uma única pensão e um parco subsídio.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A quem fala na "outra metade da laranja" ou procura desesperadamente a "cara-metade", apetece-me responder que "Para ser grande, sê inteiro Nada teu exagera ou exclui"* e "You and me we're meant to be walking free in harmony"**.

*Ricardo Reis
** Rome wasn't built in a day, Morcheeba

terça-feira, 9 de novembro de 2010

As pedras no caminho

A crise inspirou-me. Estou a tentar tornar-me uma pessoa melhor.
Ando a descobrir as alegrias de viver com menos dinheiro e menos bens materiais. Do minimalismo. Do aproveitar os pequenos prazeres da vida. Do voluntariado e da doação a quem precisa mais do que eu. Da alimentação saudável e do "só uma sopinha para o jantar".
As alegrias de mais literatura e menos internet. De acordar ao fim-de-semana sem ressaca.
As alegrias de uma relação a dois (já a três e quatro e cinco será um desafio mais complicado). Até ando lentamente a tentar deixar de ver notícias.
As alegrias de reclamar menos e aceitar o que a vida me dá. De evitar pessoas tóxicas. De ver as (poucas) coisas boas do meu trabalho. De aproveitar as meias manhãs de fim-de-semana. De tomar grandes e reconfortantes pequenos-almoços.
Mas por melhor pessoa que eu me torne, por mais zen-quase-a-atingir-o-nirvana-e-ser-amiga-pessoal-do-Dalai-Lama que eu seja, não creio que alguma vez venha a compreender a alegria de acordar com o despertador e de me levantar às oito da manhã. Às nove e meia eu ainda acredito, mas mais que isso só mesmo na próxima encarnação e num país onde faça sempre sol e calor.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Da minha janela vejo o país (I)

Da minha janela vejo uma das colinas de Lisboa. da minha janela tenho um retrato do país.
Vejo as árvores dos jardins de casas antigas, apalaçadas, herdadas por quem as estima e dá valor, sabendo quanto vale um pequeno oásis no centro da cidade, um jardim frondoso e o inevitável espaço para estacionar a larga frota automóvel.
Vejo também umas quantas penthouse no topo de edifícios recuperados e pintados de fresco. Com terraços grandes e bem aproveitados por quem sabe que o melhor de Lisboa é a luz e a vista sobre o rio. São terraços com plantas, quase árvores, elegantes guarda-sóis que não fazem publicidade à Olá ou à Sumol, espreguiçadeiras que substituem o solário. Terraços onde se aproveitam os primeiros raios de sol quente da Primavera e os últimos no Outono. Onde se bebe vinho verde gelado nos tórridos fins de tarde de Verão.
São as casa das eterna famílias de bem. São as casas dos jovens casais cool da cidade. Os que vão resistindo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um dia eu vou mandar uma boca às pessoas que andam aos pares ou aos "tripletes" nos passeios com um metro de distância entre elas e sempre aos ziguezagues, impedindo qualquer ultrapassagem por parte de pessoas com mais o que fazer.
Hoje foi o dia.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O charme de viver no centro histórico

Cada vez que subo uma das colinas de Lisboa carregada com sacos do Mini-Preço, parece que oiço a Odete Santos por cima do meu ombro a declamar a Calçada de Carriche.

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada
(...)
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.

(...)

Chamasse-me eu Luísa e diria que este poema fora escrito para mim. Só não incluo a parte do homem que chega, se serve dela, Luísa não dá por nada porque senão ainda provoco aqui uma crise conjugal.
Mas é um charme que o lado mais proletário da minha vida possa ser descrito em poesia.