Da minha janela vejo uma das colinas de Lisboa. Da minha janela tenho um retrato do país.
Vejo um bairo histórico com o charme da decadência. Um quadro de Vieira da Silva com setenta anos de atraso. Os telhados apodrecidos. As velhas antenas de televisão.
Vejo prédios velhos, sujos, com traseiras em vias de derrocada. Varandas com a tralha ferrugenta que já não se quer em casa, mas que que não se deita fora porque os tempos não estão para desperdícios. As toalhas roçadas estendidas.
Não posso deixar de imaginar o interior destas casas velhas. A escuridão e a humidade das paredes porque as janelas não são viradas para o sol ou porque as cortinas estão sempre corridas para esconder as vergonhas das vidas.
Famílias muito grandes para espaços tão pequenos.
Idosos muito sozinhos para espaços tão grandes.
Demasiadas pessoas para uma única pensão e um parco subsídio.
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